Por aqui passam-se os dias em silêncio. Apercebi-me disso ontem, que se não fosse beber café aqui à rua, aos correios ou levantar fotografias à loja do costume, passava o dia inteiro sem dizer uma palavra. Mas eis que percebo que afinal não.
Todos os dias falo com o meu cão, e quem tem cães sabe que para nós eles são pessoas. Por isso falamos com eles, como se fossem pessoas. Mas sim, se não sair à rua para os recados do costume, não falo com pessoas. E eu que nem sou bicho-do-mato, não estou a desgostar desta coisa.
O silêncio é afinal tão poderoso e tão mais importante do que falarmos constantemente e termos a nossa vida cheia de sons e palavras. Ouço música o dia inteiro, adoro conversar, escrever, gosto de ler (ainda que leia pouquíssimo), mas há momentos em que estar em silêncio é exactamente o que precisamos.
Num dia-a-dia em que somos tão solicitados, em que somos estimulados com tanta coisa, em que sentimos um chamamento quase ridículo de consultar updates disto e daquilo e cada 30 segundos (não vá o mundo acabar e nós sermos a última pessoa a saber!), em que sentimos uma necessidade de partilha tão grande, que por vezes sentimos a dificuldade em equilibrar a partilha com quem efectivamente está connosco e a partilha com o outro mundo que não está ali connosco. Queremos mostrar quem somos, onde estamos,o que vimos, o que saboreámos, o que fizemos…
Estamos ligados ao mundo. Mas nem sempre o mundo está ligado a nós. E por vezes precisamos que não esteja. Precisamos de desligar esse mundo e concentrarmo-nos no nosso.
Um dia destes comentava com um amigo do coração os inúmeros planos que tinha para os próximos tempos. Quando a nossa vida muda por algum motivo, sente-se quase uma adrenalina. Queremos fazer tudo, temos imensas ideias e coisas novas para experimentar, sítios a ir, coisas a fazer. E este meu amigo disse-me “Mas não faças tudo ao mesmo tempo. Dá tempo ao tempo e vai apreciando cada momento.” Percebi a mensagem. Quem é nosso amigo, olha por nós e quer o nosso bem. E eu percebi a mensagem. Vou dar tempo ao tempo.
Até porque sabemos que a adrenalina se esvanece, as rotinas voltam a instalar-se e é preciso tempo para nós, para o nosso mundo, para que nenhum degrau seja esquecido. E para que tudo aconteça no seu tempo certo, quando estivermos preparados para receber o que vem até nós.
Por aqui nesta casa onde escrevo anda-se em silêncio. Sinto que é preciso, sinto que não consigo ainda estar na disposição certa para partilhar aventuras, fotografias disto e daquilo, histórias de amor… porque o cansaço é enorme, a entrega de trabalhos está atrasada e a energia precisa para tudo isso está… não sei, nem sequer sei onde está. Mas vou encontrá-la de alguma forma. Vou guardando todas as histórias que tenho para vos contar, até ao dia em que sentir que está na altura de recomeçar por aqui.
Sinto que há ainda imenso trabalho por terminar, um ano quase a terminar também e um balanço é mais do que necessário. Deseja-se um 2015 bastante mais simpático do que este 2014, desejam-se planos giros, aventuras novas por outras terras, projectos novos, pessoas novas, fotografias novas e diferentes.
Enquanto isso não chega, deixo-vos (coisa rara nos últimos meses) com um blog delicioso que me faz ter desejos muito bons, como o de parar para sair de casa, fotografar mais em analógico (a máquina está parada há cerca de 2 meses), visitar o Porto, mudar a decoração da casa, parar e apreciar tudo o que me rodeia, vaguear por aqui e por ali sem destino, com um caderno debaixo do braço para escrever.
MissLilly says
Adorei tudo, as palavras e as tuas fotos. Nada é melhor que o silêncio é o saber estar em silêncio. Adoro os momentos em q posso estar no sofá com uma cabeça de chá nas mãos e desligar enquanto viajo nem sei bem onde na minha mente. O sentimento e de calma e tranquilidade. Nunca me dura mto o silêncio pq acabo por cantarolar qqer coisa enquanto arrumo a casa ou faço outra coisa qqer.
E se aprendi qqer coisa nos últimos anos e q o melhor plano as vezes é não ter grandes planos e saborear esses pequenos momentos a medida q eles aparecem.
Mas tu vives C o Mr charming! O cão mais carismático de Lisboa, ptto mesmo q estejas em silêncio tenho a certeza q n te sentes só nem desprotegida :)
claudia says
Obrigada Miss Lilly!! Mas é como dizes, estar sossegada em silêncio é fabuloso, é apreciar o tempo a passar se sentir a pressão de fazer, de concretizar, de sair, de registar, de partilhar… parar e estar quites, sossegada, sem falar. Como dizes, a viajar com a nossa cabeça… E sim o Kobe é uma enorme companhia! Sempre com aqueles olhinhos de quem poderia dizer tanto se falasse!! Um beijinho grande!
Sofia says
Obrigada Cláudia por este artigo….
claudia says
De nada minha querida, de nada… Beijinho enorme!
Maria João says
saber estar e apreciar o silencio não é para todos, mas a mim faz-me muito bem!
e vem ao Porto sim :))))
claudia says
Exacto Maria João, acho que não é para todos, mas nada que não se pratique. Acredito que é fundamental para o nosso equilíbrio e tão facilmente passamos sem estes momentos. Um beijinho!
Ju says
Eu sinto tantas vezes necessidade desse silêncio, desse estar só, só comigo..eu vivo rodeada de barulho e gente todo o dia. Tenho a certeza que isso só te fará bem e irás regressar com as energias recarregadas. *
claudia says
É isso mesmo Ju! Ajuda a recarregar as baterias! Aliás só de o ter verbalizado, acho que já foi bom! Um beijinho enorme!
Tina@Traveling Mama says
Absolutely gorgeous photos! xx from Atlanta
claudia says
Thank you so much my friend!!
Arte e Luar says
Isto realmente bateu cá dentro…
sim, eu que há tantos anos vivo sozinha e há uns quantos trabalho em casa, dou comigo a pensar que há vários dias que não falo com ninguém, pelo menos a viva voz, o que não é exactamente a mesma. realmente se não forem as voltas do dia-a-dia e as idas ao correio passava muito tempo sem falar.
isto faz confusão a muita gente e preocupação a outros tantos, mas a mim não, talvez se não tivesse sempre a fazer algo, a pensar em algo ou a ler compulsivamente sentisse isto mais fundo, mas dou-me bem com o silêncio, dou-me bem comigo própria.
claudia says
Ah pois, o silêncio forçado de quem vive e trabalha sozinha em casa! Mas lá está, há sempre momentos em que sais à rua e em que deixas de estar sozinha! Mas aconselho ainda assim a adotares um cão ou um gato, torna a vida de quem trabalha em casa muito mais saudável e sempre tens com quem conversar! Ainda assim, é bom apreciar o silêncio… ainda que na companhia destes amigos! Nada como uma tarde de sofá com eles ao lado e não fazer rigorosamente nada! Um beijinho!
check out fashion says
bonitas palavras. um beijinho
claudia says
Obrigada ;) e um beijinho para ti também!
Simone Matos says
Palavras encantadoras, tão verdadeiras! Também aprecio bastante o silêncio, tão bom! :)
claudia says
Obrigada Simone! O silêncio é tão importante… e é tão bom saber que também o parecias! Um beijinho!
Andreia Pinto says
De facto, por vezes é fundamental abrandar-mos. Ouvir-mos o nosso corpo e o nosso mundo, pois os colocamos quase sempre em segunda plano. Também ando um pouco assim. Atarefada com mil e uma coisa e o corpo fartinho de reclamar. A cabeça então, nem se fala. O que vale é que já falta pouco para as férias. As merecidas e benditas férias. Já avisei aqui em casa que nessa altura vou fazer rigorosamente nada. Só colocar o sono em dia, passear e ouvir o silêncio.
Um beijinho,
http://pontofinalparagrafos.blogspot.pt