Assim que o início de um novo ano começa a aparecer ao fundo, começam também a surgir histórias e mais histórias sobre as novas resoluções para o novo ano. Fazendo poucos ou muitos planos, de alguma forma fazemos também o balanço do ano que está a terminar. Invariavelmente, e mais uma vez fazendo poucos ou muitos planos, há uma certa vontade geral em apreciar mais o dia-a-dia, em abrandar, em arranjar tempo para aquelas coisas que nós sabemos serem tão importantes e ainda assim, deixamos que estas sejam as mais negligenciadas, como o tempo para nós, para a nossa família e os nossos amigos.
Mas nos tempos em que vivemos, o acto de abrandar, de se criar tempo na agenda para algo que não seja visto como um trabalho árduo é quase um acto de coragem… e para alguns chega a ser uma afronta. Como nos atrevemos a parar, a não trabalhar às 15h de um dia de semana, quando as coisas estão como estão? Só pode querer dizer que não temos vontade de trabalhar.
E curiosamente a primeira voz que se ouve nem sequer é exterior… mas sim a nossa própria voz, a que vem cá de dentro, a que ainda que fale baixinho é quase ensurdecedora.
Nos tempos que correm, tudo é rápido e para ontem, tudo se quer agora e já, e se demorar mais do que 2 segundos, já perdemos alguém, um leitor, um potencial cliente, um negócio. Leio artigos atrás de artigos sobre marketing, newsletters, Facebook, atrair mais leitores e invariavelmente todos acabam por nos alertar sobre a necessidade (leia-se obrigatoriedade) de ter tudo disponível para o cliente. Este tem de fazer o mínimo esforço para chegar até ao que queremos vender, oferecer, dar a ler.
E num mundo destes como é que nos atrevemos a parar ou a abrandar? Sim, porque abrandar já de si é corajoso, mas parar?? Parar é estar a pedir que alguma coisa corra mal. Até porque a nossa caixa de emails não nos deixa fugir, nem esquecer que devíamos estar a trabalhar. Devíamos porque os prazos razoáveis já foram ultrapassados e será um sacrilégio isso acontecer. Somos péssimos profissionais. Somos do pior que há.
Mas será que isso justifica não abrandar? Não parar para ir lá fora? Não interromper o que fazemos para poder ir dar um passeio e beber um café? Não é ir ali à esquina ao café do costume, mas sim dar mesmo um passeio… e beber um café?
Nos tempos que correm, vive-se porém numa ambivalência e há dias em que é muito difícil decidir-se o que se quer. É difícil decidir se queremos ser uns corajosos e parar porque precisamos, ou se queremos ser os melhores e fazer mais um esforço para um enorme dia de trabalho. Fazemos o que nos apaixona, mas isso não quer dizer que não precisemos de nos afastar. Afastar para um quase re-calibrar, como se máquinas fôssemos.
A necessidade que tenho em arranjar algo que me afaste do computador diz tudo. Apaixona-me o que faço, tirar fotografias, ver fotografias, ler sobre fotografia, editar fotografias. Mas sinto necessidade de sair da frente do computador e ir fazer outra coisa depois do jantar. E às vezes esta necessidade surge a meio da manhã ou da tarde.
Sim, porque ser-se fotógrafo/designer freelancer, não quer dizer que se passe grande parte do dia a fotografar na rua ou a “designar” em casa. Passa-se muito mais tempo nos emails, no marketing, na gestão de clientes, no envio de encomendas, em reuniões, nisto e naquilo.
A importância de parar, de apreciar o que temos à nossa frente, sem o documentar, ou documentando e apreciando, e de seguida apreciando sem documentar. Foi o que fiz neste pôr-do-sol a seguir ao Natal. Tinha acabado de me sentar no sofá e de repente apercebi-me deste pôr-do-sol magnífico lá fora. Agarrei na máquina e desapareci porta fora. E aqui estive no topo desta ravina a fotografar e a apreciar a natureza… o mar… e simplesmente sem ouvir nada, sem ser o som do mar. E sozinha comigo. Sozinha e ali fugi com os meus pensamentos durante uns momentos sem sair do mesmo sítio. E já não sabia quando é que isso tinha acontecido pela última vez… o esquecer-se de onde se está, e ao mesmo tempo não conseguir tirar os olhos de algo que se aprecia.
Angela says
Nos 5 anos em que estudei em Tomar costumava dizer que o que tinha mais saudades nem era do mar, mas sim do céu algarvio, das paletas de cores incríveis ao fim do dia, do campo de visão amplo, que nos deixava observar até muito além. Agora a viver no mediterrâneo, mesmo com este mar espectacular, continuo a ter saudades do mesmo. Sei que esse céu não é algarvio, mas podia ser. Hoje em especial essas imagens chegaram no momento certo. E sim, é preciso abrandar. E por vezes parar.
Beijinhos, adoro o teu trabalho
claudia says
Olá Ângela, como estás? Que bom saber que estas imagens chegaram no momento certo! Fico mesmo feliz quando “acerto” assim com que me segue! E de facto o mar traz qualquer coisa, ainda que nem sempre tenha sentido esta ligação com o mar. Mas neste dia senti- Senti que ali fiquei a absorver todas estas cores e senti-me a pairar ali, sem ouvir nada mais. E soube-me tão bem! Um beijinho e obrigada pela tua visita!!
Ana says
É mesmo isso que me propus fazer este ano. Ter calma e parar quando é preciso. E não me preocupar com as coisas que não estão na minha mão. E até agora tenha conseguido!
claudia says
E ainda bem Ana! É sempre bom irmos tentando, não desistir, ainda que às vezes o tempo nos engula, as obrigações nos roubem aquele pedacinho de tempo que queríamos… Mas um dia de cada vez!! Um beijinho!
MissLilly says
Nos tempos que correm (e se correm), esquecemo-nos de apreciar as pequenas coisas, esquecemo-nos de parar e simplesmente sentir. Muitas vezes mesmo para efeitos de trabalho e bom parar, afastar e ver as coisas com outra perspectiva, com outros olhos. E importante saber quando parar e parar de vez em quando. E facil deixar-se ir, e continuar sem parar. Concordo que e preciso coragem para dizer: nao, agora vou tirar o meu tempo, ja volto :)
excelente texto
claudia says
E o que nós sabemos que às vezes o que nos exigem é além do que devíamos dar, nós que já partilhámos a profissão! :) Mas ainda assim, até para te manteres sã e criativa, é necessário arranjares esse tempo para ti, para outras coisas… E é preciso coragem, muita coragem, para o dizermos a nós e aos outros. Um beijinho grande!!!
Mafalda says
Que post inspirador para uma sexta-feira.
Deixou-me com um sorriso na cara e a pensar que os dias são mesmo para serem aproveitados com aquilo que mais gostamos!
claudia says
E eu fiquei de sorriso quando li o teu comentário Mafalda!! Obrigada!! Um beijinho enorme e espero que o fim-de-semana tenha sido bom!!
Maria Guimaraes says
Muito bonito, Twiggs! So true! beijinhos
claudia says
Obrigada Maria!! Um beijinho também para ti!
Ju says
Nem sei o que mais me tocou neste post, se o texto, se essas fotografias…
Tens toda a razão, é claro que todos precisamos de trabalhar e agarrar todas as oportunidades, mas e nós? Tem que haver sempre tempo para nós, nem que sejam uns 10 minutos, mas isso não pode deixar de existir, se não endoidecemos.
Essas fotografias estão lindas, lindas, lindas…espectaculares! Só de olhar para elas, imaginei-me sentada nessa ravina com toda uma paz a envolver-me *
claudia says
Olá Ju! Pois é, é como dizes! E nós?? Nós temos de cuidar de nós para continuarmos a fazer o que gostamos, o que fazemos melhor… para voltarmos a nós e sabermos o que queremos fazer de seguida. E obrigada pelas tuas visitas e palavras doces em relação às fotografias! Um beijinho grande!!
Maria João says
e que lindo momento tu registaste!
estou como tu, também preciso abrandar e apreciar mais.
e o facebbok muitas vezes faz-me sentir mal, porque vejo tanta gente a produzir tanto e tantas coisas que eu também gostava de conseguir. mas não consigo :(
neste verão, aconteceu-me um momento parecido com este teu. estava a caminho de casa e as cores no céu pediam-me para eu ir em direcção ao mar. e assim fiz, estive lá sozinha a ver o sol desaparecer atrás do mar. não foi mais de meia hora que me souberam pela vida!
um beijinho Cláudia!
claudia says
Pois, o Facebook, o Facebook… às vezes ligo-o apenas para aceder à página e ali fico apenas na minha casa. Gosto de ver o que fazem os colegas, os que admiro, aqueles que fazem o mesmo que eu e outros que fazem coisas tão diferentes. Mas outras vezes prefiro não ver, não ler… porque fico ansiosa. Fico a pensar no que devia ter feito ainda e não fiz, no tempo que me falta para pôr em prática qualquer coisa que tinha pensado… e por isso desligo-me e tento concentrar-me no que tenho pela frente.
E por isso, estes momentos de pausa são também tão precisos. Para recalibrar, para voltarmos a nós.
Um beijinho enorme Maria João!
Sílvia Silva says
ai, ai…como isto me fala tão próximo ao ouvido e ao coração. como eu sei que preciso parar e ‘perder’ algumas coisas para me poder recalibrar. mas sim, tenho sempre a sensação que estou a perder…tempo, clientes, trabalho, dinheiro. está tudo uma grande confusão na minha cabeça. foi bom ler este post. obrigada.
claudia says
Pois, eu acho que nós as duas devemos ter tantas vezes sentimentos e experiências semelhantes! É como dizes, às vezes fala mais alto o receio de perder algo com aquele virar as costas ao computador. Mas faz tão bem, e se continuarmos a ser as profissionais que somos, a dar o nosso melhor, a pensar que tantas, mas tantas vezes trabalhamos tanto a horas tardias, a nossa consciência deve ficar mais leve e percebe que este virar vai ser melhor para nós e vai trazer uma frescura em tudo… no nosso pensamento, na nossa mente, criatividade, disposição, ânimo… Um beijinho enorme!!
andrea says
não faço resoluções, mas quero fazer este exercício durante este ano de cada mês pensar no que preciso fazer, mas para mim… e tem sido maravilhoso parar ás 23:00, ler e sossegar… preciso abrandar e sabe-me tão bem.
claudia says
Ah isso é também um objectivo, parar a uma certa hora e ir para o sofá. Ainda bem que tenho um desktop em vez de um portátil, porque assim força-me a agarrar num livro ou numa revista! :)
sofia - do avesso says
Belas palavras. Fizeram-me lembrar estas http://www.designformankind.com/2012/12/the-rebirth-of-slow-blogging-and-a-new-direction/
ana says
entendo tão bem aquilo que dizes.
neste momento, uma das grandes certezas (e das poucas) que tenho é da importância do tempo, de tempo para nós, para o que realmente gostamos, de tempo para parar. e vivemos num mundo que sempre nos tenta convencer do contrário.. talvez porque parar nos faça pensar e tomar as nossas decisões.
(lindo por do sol no mar :) )
um beijinho*