Quase que gosto da vida que tenho.
Não foi fácil habituar-me a mim.
Pedro Paixão
Uma tarde, sol a atravessar todos os recantos e o desejo de estar… deambular… sozinha, entregue a pensamentos, a descobrir. Apetece retratar cenas diferentes, retratos que me levem para longe da vida que tenho. “Quase gosto da vida que tenho” li hoje… e ao ler estas palavras um sorriso esboçou-se… Quase gosto da vida que tenho. Será?
“O que te impede de seres mais feliz ou de seres tão feliz como gostavas de ser?”
Talvez nada ou simplesmente {eu}.
Uma exposição, um tema. “It’s about time.” E o tema surge de novo num livro “One hour book”… o tempo. Este que passa calado… deixa marcas, esconde segredos. Protege-nos ou é egoísta? Porque não nos conta quando queremos saber? Protege-nos ou é egoísta… ou talvez não queira simplesmente estragar-nos a surpresa.
Tantas questões… tantas decisões. E se não decidirmos bem? Um passo em falso e já não voltamos atrás. O tempo não deixa. Aparentemente só podemos andar para a frente. Sempre. Mas isso até é bom, não é? O que está feito, está feito. Aprendemos… Sempre. Ainda assim poderemos querer repetir alguma cena da nossa vida. Será? Quase. Sempre com detalhes diferentes. Quase que gosto da vida que tenho. Será? Às vezes.
Quando deambulamos, cruzamo-nos com experiências, com vozes, vidas, cheiros, músicas… há momentos em que essas paisagens são tão ricas que apetece guardar, fotografar tudo… registar… dizer ao tempo para parar. Cruzamo-nos e procuramos descobrir as histórias envolventes. Será que têm cores?
Cruzo-me com alguém, alguém que entra no mesmo espaço que eu e que tem uma cor… azul nos olhos. Qual será a história? São três. Olhos azuis com uma vida cheia de histórias e cheiros, alguém pequeno que observa o mundo dos grandes, não diz bem os “r’s” e descobre os animais, e alguém maior que começa a descobrir cada vez mais o mundo e dentro de momentos chegará a pensar que sabe mais que os olhos azuis que a aconselham e orientam.
Uma livraria, a melhor livraria do mundo. Dentro dela todas as pessoas que procurava hoje. Alguém que traz uma mochila, parece estrangeiro, mas lê Saramago e fala português. O pai de olhos azuis e as suas duas crianças. O francês que entra como se estivesse em casa. O alto negro com estilo criativo e sotaque nova-iorquino. A mãe com os seus dois filhos quase vestidos de igual. Novos… velhos… estrangeiros… portugueses. Todos diferentes. Apetece ficar e ler tudo. Tectos de tantos metros que não consigo contar… cheios de livros.
Tenho de descobrir mais… noutro lugar. Procuro sítios com pessoas diferentes, cheias de histórias. Deambulo e quando questiono se viro naquela rua à direita vejo ao longe os olhos azuis, o pequeno que descobre animais e a sua companheira de brincadeiras, na casa da mãe ou do pai.
Quase gosto da vida que tenho. Neste momento apetece sorrir e respondo que gosto! E… descubro a melhor esplanada, inundada de sol. Descubro exposições, arte e fotografia. E apetece perguntar ao tempo: Queres dizer alguma coisa?
“Na Natureza nada se repete. Não há duas palavras iguais. Dois pássaros iguais. Duas gotas de chuva iguais. Dois beijos iguais. Neste Fabrico Infinito também tudo é único e irrepetível. Não volta mais. Aproveitem. E sejam felizes.”
José Trabucho
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